Um dos maiores estudiosos da cultura popular brasileira, Nei Lopes analisa a obra da cantora mineira Clara Nunes, em evento do festival de inverno em São João del-Rei
| Bruno Veiga/Divulgação | | Nei Lopes é músico e bacharel em Direito. Há 13 anos vem produzindo a Enciclopédia brasileira da diáspora africana | O compositor e pesquisador Nei Lopes participa do Inverno Cultural de São João del-Rei, discutindo a obra de Clara Nunes, hoje, às 18h. Sócio correspondente do Centro Internacional das Civilizações Bantu, com sede na República do Gabão, com extensa obra voltada para a temática afro-brasileira, ele é autor de livros como O samba na realidade (1981), O negro no Rio de Janeiro e sua tradição musical (1992) e Zé Kéti, o samba sem senhor (2000). “Vou discutir a mestiçagem no Brasil, usando o repertório de Clara Nunes”, explica, acrescentando que ela era uma artista para quem “foi fabricada imagem de afro-brasilidade” e que se trata de discussão política, não estética – “neste plano, ela é maravilhosa”.
“A mestiçagem é faca de dois gumes”, afirma Nei Lopes, de 66 anos. “Em um país, como o Brasil, que tem 60% de negros, significa mudança de realidade histórica que pode levar à não realização de políticas públicas para esta população.” O compositor vem desenvolvendo, desde 1995, o projeto da Enciclopédia brasileira da diáspora africana, obra ambiciosa, em que reúne centenas de verbetes sobre a influência da cultura africana na música do país. “Tenho todo um campo de reflexão sobre a participação do elemento africano e o afrodescendente na cultura brasileira, sendo o samba o segmento mais visível dessa participação.”
Nei Lopes nasceu em Irajá, no Rio de Janeiro. É bacharel pela Faculdade Nacional de Direito e no início dos anos 1970 abandonou a carreira para se dedicar à música e à literatura. Na década de 80, foi um dos incentivadores, como prático e teórico, do chamado “pagode de fundo de quintal”, que levou de volta o samba às paradas de sucesso, com nova roupagem. Intérprete de suas próprias obras, ele tem gravados, em dupla com Wilson Moreira, os álbuns A arte negra de Wilson Moreira & Nei Lopes e O partido muito alto. Individualmente, gravou os discos Negro mesmo, Canto banto, Sincopando o breque e De letra & música. É parceiro de Zé Renato, Guinga, Chico Buarque, Aldir Blanc, Paulinho da Viola, Hermínio Bello de Carvalho e Paulo César Pinheiro, entre outros.
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