Antônio Roberto
antonio.roberto@uai.com.brSe olharmos os animais, um cachorro, um gato, um cavalo, veremos que eles vivem, mais ou menos, do mesmo jeito. Eles se alimentam, dormem, procuram proteção e se reproduzem. Eles são guiados por seus instintos e procuram apenas a própria sobrevivência. Por isso mesmo são treinados facilmente por seus ambientes. Qual seria, pois, a diferença entre nós e os animais? Também nos alimentamos, dormimos, fazemos sexo e procuramos sobreviver. A grande diferença é que nós, seres humanos, temos uma faculdade ausente nos animais chamada de liberdade.
O que nos faz pessoas é a capacidade de escolher. Ser livre não significa poder fazer tudo o que queremos ou tudo o que vem na nossa cabeça. Ser livre é assenhorar-se da nossa marca fundamental: a escolha. Quando abrimos mão dessa prerrogativa, nosso mundo se fecha, tornamo-nos escravos das circunstâncias e vivemos a sensação da leitora acima de estar presos, acorrentados, impotentes e deprimidos. Quando abdicamos de nosso querer, caímos na postura da vítima. Essa postura consiste, sobretudo, em culpar o destino e as outras pessoas por nossa infelicidade. As pessoas fazem escolhas erradas, não aprendem com elas, repetem as mesmas escolhas e a responsabilidade é da falta de sorte.
Somos tão inconscientes de nossa liberdade que quase sempre nos sentimos sem opções na vida. Acostumamo-nos na mesmice e no medo de mudar que, pouco a pouco, vamos criando nossas prisões e nos sentindo sem alternativas. Por outro lado, ser livre em uma sociedade marcada pelo controle, pela dominação, pela vontade das pessoas mandarem umas nas outras não é fácil. Temos de lutar bravamente por nossa autonomia, por nosso direito de desejar e escolher.
O medo de não sermos amados, da solidão, da rejeição e de desagradar não são bons companheiros para quem deseja fazer-se livre e, por conseqüência, ser feliz. Ser livre é querer ser compreendido. Ao mesmo tempo, é complicado. Diz a leitora: “estou envolvida em tantas obrigações...”. Obrigação é coisa de escravos, de submissões e de fantoches. Há uma grande diferença entre “eu tenho que...” e “eu quero”. As pessoas, em geral, e é um grande erro, imaginam a própria vida, um grande “tenho que…”. Elas têm que trabalhar, ir ao dentista, acordar cedo, ganhar dinheiro, fazer compras, transar, visitar outras pessoas etc. O certo é que não temos que fazer nada. Tudo são escolhas. Quando aquilo que chamamos de obrigações são resultado de nosso desejo, e, portanto, de nossa escolha torna-se devoção, por mais árduas ou dolorosas que elas sejam.
Certa ocasião, em um seminário de desenvolvimento comportamental, tentava mostrar aos participantes essa forma de ver a vida. Um rapaz, que se encontrava em um processo avançado de estresse, retrucou: “Não concordo! Eu sou obrigado a trabalhar. Se não for, todos os dias, à empresa, serei repreendido, não terei dinheiro no fim do mês, minha mulher brigará comigo e meus filhos passarão necessidades”. Ao terminar, eu lhe disse: “Ir ao trabalho é uma escolha sua. Você prefere ir trabalhar em vez de escolher as conseqüências terríveis de não ir. Mesmo assim, você tem a liberdade de não ir”. Toda opção tem uma conseqüência. Quando falamos que a pessoa é livre para escolher não significa que qualquer escolha lhe trará benefícios. E é exatamente a experiência com as conseqüências que irá nos mostrar, no decorrer da vida, o acerto ou a inadequação de nossas escolhas.
Todos nós, portanto, temos possibilidades de fazer coisas melhores em nossas vidas. Se estivermos sofrendo, se estamos insatisfeitos não podemos cair na trama da resignação. Muitas de nossas escolhas foram equivocadas e mudá-las é o caminho. Podemos fazer grandes avanços na nossa realização pessoal e dar passes significativos no nosso crescimento.
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