Tolerância zero para bandidos

Anna Marina
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"O estado é o primeiro a ter que dar o exemplo. Fui assaltada à mão armada há três anos e levaram meu carro, que nunca mais vi"
Atordoado por tantos escândalos nacionais, em todos os níveis do poder e do dinheiro, o mineiro vai perdendo um pouco a escala da realidade. Só que o mal que não sai cotidianamente no jornal nem na TV, mas é o que toca mais de perto as famílias, continua firme, sem descanso. E como ninguém se livra da violência, alguns leitores gostam de tornar pública sua indignação. Como ocorre com a leitora que me mandou uma carta que podia ser escrita por dezenas, centenas de outras mulheres, com o mesmo grito de revolta.

"Estou muito revoltada com a notícia que saiu hoje (quarta-feira) no jornal de que o Supremo Tribunal Federal (STF) liberou os candidatos com ficha suja a concorrerem às eleições. O argumento deles é que todos são inocentes até o fim do julgamento; porém, nós cidadãos comuns temos que apresentar certidões negativas para tudo: para abrir empresa, fechar empresa, vender imóveis, homologar separação, desacordos familiares, etc.

Não estou julgando ninguém, mas na minha pobre opinião, quem está sob qualquer processo na Justiça deveria estar fora das eleições, como todo cidadão comum. O que ocorre com a pessoa que ganha uma eleição e é condenada? O estado é o primeiro a ter que dar o exemplo. Fui assaltada à mão armada há três anos e levaram meu carro, que nunca mais vi. Meu filho já perdeu quatro aparelhos de som de seu carro, e há 15 dias foi brutalmente assaltado na saída de um casamento ‘badalado’ em Belo Horizonte, sendo que os três bandidos, armados, já chegaram batendo.

Resultado, meu filho está com a mão quebrada e o outro rapaz cheio de hematomas. Levaram o carro dele, que foi encontrado dois dias depois. (Também é preciso um alvará de liberação do veículo para mostrar ao guarda que o meu filho não é o bandido). O incrível disso tudo é que passamos a pensar: graças a Deus não levaram os meninos, graças a Deus não tocaram na namorada do meu filho, graças a Deus que meu filho só está com a mão quebrada, e por aí vai... Fomos ao galpão da polícia buscar o carro e na tarde inteira perdida com a burocracia, ficamos conversando com as demais vítimas do fim de semana. É incrível, um casal que também perdeu o carro disse que pela descrição dada, a polícia até sabe quem é o bandido e, por incrível que pareça, o mesmo é estudante de famosa faculdade de Belo Horizonte.

O casal é mais um que pensa: graças a Deus não nos levaram e não fizeram nada com a moça. Tenho muita fé em Deus e agradeço muito a Ele pelo meu filho estar vivo, mas estou cansada de ter medo e de só poder dormir tranqüila quando os meninos chegam em casa a noite, e não só das "baladas", mas da faculdade, pois estudam a noite e trabalham durante o dia. Está dando certo a tolerância zero para o álcool no trânsito. Imploro pela tolerância zero para o crime, como deu certo em Nova York. Tolerância zero também para os políticos. Torno a dizer: o exemplo tem que vir de cima. Se o estado prega a impunidade e falta de ética, o cidadão comum se sente no direito de fazer a mesma coisa. Muito obrigada por ler meu desabafo.

PS: esqueci de mencionar que no dia em que fomos buscar o carro, o fiscal nos disse que só nesse dia foram devolvidos 47 veículos. Acredito que nem todos eram fruto de roubo, mas na fila que peguei todas as pessoas tinham sido ‘subtraídas’ de seus bens. Ainda é meu dever mencionar a prontidão e educação exemplar de todos os policiais com quem conversei".

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