Dignidade humana



por Eduardo Bomfim*

Muito interessante o ensaio, publicado em Carta Maior, do Professor Samuel Pinheiro Guimarães, embaixador e secretário geral do Ministério das Relações Exteriores. O professor Samuel procura explorar questões candentes da atualidade tais como a nação, nacionalismo e o Estado.


Mas o que me chamou a atenção em seu texto é precisamente a abordagem sobre os novos conceitos ideológicos que emergiram, ou tomaram feições mais definidas, no início deste século 21.

Ele afirma que a sociedade atual se caracteriza pela concentração de riqueza e poder, pela transformação tecnológica acelerada, instabilidade social, ansiedade e frustração individual, fundamentalismo religioso, e a fuga da realidade através das drogas pesadas.

Quer dizer, apesar do crescimento econômico as desigualdades sociais não só permanecem, mas avançam, os espetaculares avanços científicos e tecnológicos em todas as atividades humanas não beneficiam as maiorias. Proliferam duvidosos cultos religiosos, tornando-se uma tendência mundial as seitas fundamentalistas, sectárias e agressivas. Nesse quadro de confusão e perplexidade, surge o fenômeno de frustração e ansiedade dos indivíduos como uma síndrome generalizada.

Não é à toa que o jovem e falecido compositor Cazuza, com o seu reconhecido talento, disse: ideologia, eu quero uma para viver. Essa frase transformou-se em um grito de toda uma geração nos recentes anos oitenta do século passado.

Na verdade, não se trata da ausência de crenças, cultura, tradições e instituições na sociedade contemporânea, mas o caráter asfixiante e negativista, destrutivo mesmo, dos valores que compõem a estrutura ideológica dominante, difundida maciçamente através dos oligopólios de comunicação que condicionam os valores da sociedade.

Encontra-se o cidadão médio comum quase que totalmente confuso, perplexo e principalmente conformista, com a nítida sensação de impotência. Como atenuante a tanto desconforto imposto, propaga-se o endeusamento ao corpo, a sociedade do indivíduo como espetáculo. Combatem-se a cultura do saber e do espírito, a luta pelas grandes causas do seu país ou da humanidade. É a difusão da apostasia como forma de viver.

É fundamental compreender que tudo isso é transitório, fruto de uma ideologia insana do lucro. Que é essencial, e possível, lutar por elevadas aspirações humanas, pelo seu país e uma vida digna, plena de justiça social.




*Eduardo Bomfim, Advogado

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