Vou ser pai. E agora?

PATERNIDADE PRECOCE

Paternidade precoce pode ser um entrave para a vida adulta, mas muitos jovens demonstram senso de responsabilidade
Márcia Maria Cruz
Henrique Teixeira/Divulgação

A paternidade pode ser um estado de graça, mas quando aparece na adolescência pode causar uma série de anseios e dúvidas. O que sente um pai adolescente ao ver seu filho pela primeira vez? O que muda em suas vidas? Como é a relação entre pais adolescentes e seus filhos? O momento costuma ser muito difícil, pois parece ser um contrasenso tornar-se pai, quando ainda se precisa de colo e de orientações.

É o que ocorre com o estudante David Douglas Gomes Pereira (foto), de 16 anos, que foi pai, aos 14, da menina Anni Vitória, de 1 ano e 7 meses. Ao mesmo tempo em que sonha em fazer teste para um grande time de futebol – desejo de muitos meninos de sua idade –, ele precisa lidar com demandas da filha, como educação e alimentação. No caso dele e de outros meninos, a paternidade resulta em uma entrada precoce e precária na vida adulta, quando ainda não se sabe muito bem qual rumo dar à história pessoal. Em geral, a gravidez nessa fase é associada às meninas e, quase nada, se fala em relação à figura do pai. “Geralmente, as políticas públicas são voltadas para as meninas. Não existe uma política voltada para os meninos”, afirma a médica generalista Simone Teixeira, do Centro de Saúde Cafezal, no Aglomerado da Serra, Região Centro-Sul de Belo Horizonte.

A falta de políticas públicas voltadas para os meninos despertou o interesse da pesquisadora da Fiocruz Minas Gerais Maria Nogueira, que em seu doutorado tentou entender o universo desses meninos. Conforme ela lembra, a imagem que se tem do pai adolescente está relacionada à negligência, mas nem sempre isso ocorre. Ela conclui que uma parcela tem despertado para a “paternagem” – o exercício da paternidade nas dimensões afetivas e econômicas. A gravidez na adolescência é um problema de saúde pública com implicações sociais e, sobretudo, riscos físicos para as mães, que não estão com o corpo preparado para a gestação. Para os meninos, podem ser enumerados os aspectos emocionais advindos de tamanha responsabilidade.

Em Minas Gerais, 22% dos nascidos vivos são filhos de mães adolescentes. Entre 10 e 14 anos, a taxa de fecundidade tem aumentado, seguindo uma trajetória contrária à de outras faixas em que está sendo verificada uma queda. Embora tenha maior visibilidade nas camadas da sociedade com menor poder aquisitivo, a gravidez na adolescência é um problema que também atinge a classe média. “Os índices de gravidez não são tão pequenos quanto parecem, pois o que ocorre é um ocultamento”, afirma a socióloga Maria Nogueira, que defendeu tese sobre sexo e sexualidade na adolescência. A pesquisa foi realizada com jovens pais, com idades entre 14 e 18 anos, da Vila Cafezal.

O estudo ainda se desdobrou no projeto Amigos do Cafezal, que teve como propósito trabalhar com os adolescentes temáticas como doenças sexualmente transmissíveis (DST/Aids), afetividade, sexo seguro, paternidade e maternidade responsáveis, entre outros. O resultado do trabalho virou o ensaio fotográfico Qualé papai!, que será aberto na próxima terça-feira, e fica até 14 de setembro, no Minas Shopping. As fotos documentam o sentimento de pais adolescentes diante da paternidade precoce.

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