A reforma educacional

Problema da educação no Brasil é político
Darwin Santiago Amaral - Professor de história
A reforma educacional é mais importante que a agrária. A terra só é fecunda se a gente que dela cuida também o for. É preciso enriquecer toda a gente para que rico seja o solo. Não é à toa que o produto advindo da gleba é chamado de cultura. Cultivar significa fecundar, cuidar, aperfeiçoar. Analogamente, a escola pode ser entendida como uma quinta onde é improdutivo perder tempo, matéria-prima do intelecto cultivado, onde a dúvida é examinada, ensinando às gerações que a natureza foi transubstanciada pelo engenho cultural logo depois do advento do Homo sapiens.

Além de coragem e recursos financeiros, é preciso contar com gestores sintonizados e correta perspectiva filosófica do significado da educação que se ressente dos experimentalismos ideológicos e de inocuidades pedagógicas. É preciso interferir no dinamismo do cotidiano escolar desfavorável à instrução e à audácia educativa. Fundamental é afirmar o caráter provocativo do estudo, cujo êxito só pode emergir com dedicação, exemplos férteis e renúncia às banalidades e vulgaridades que infestam o imaginário escolar profanado. Enquanto agitar-se for mais importante que agir, a escola permanecerá no limbo sociocultural.

Bons professores desejam e precisam de diretores voltados para o processo de formação intelectual dos discentes, sem politicagens e pobres projetos. É ingenuidade ou má-fé desprezar a influência dos salários pagos aos professores no desempenho dos estudantes. Simplesmente, os docentes insatisfeitos não deixarão o alunado medrar. A ilação é inequívoca: os discentes serão beneficiados à medida que o forem, também, os seus professores. Entretanto, pagar melhores salários, automaticamente, não garante resultados satisfatórios. Salários atraentes, em tese, evitariam a busca de renda complementar, os vários turnos de trabalho e muitas licenças médicas, além de tornar desafiador o vestibular para as licenciaturas, dotando-as de encanto e atraindo a nata intelectual da sociedade. As remunerações conhecidas desestimulam os mais capazes, que rejeitam a docência, gerando vagas para outros que reforçam a estase psicopedagógica do sistema.

Nenhum programa de intervenção pedagógica obterá êxito se o protagonismo docente for desestimulado, se a luta pelo cargo de diretor escolar for mais importante que garantir um clima favorável aos estudos ou se os salários continuarem negligenciados. O problema da educação no Brasil é político e imbrica-se com a cultura e seus valores complacentes com a mândria. Há marchas cortando todo o país. Nenhuma delas protesta contra a péssima qualidade da educação brasileira. Ignoram que a terra, sem conhecimento, não promete.

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