Nas periferias paulistanas, vigilantes, donas-de-casa, metalúrgicos participam de saraus literários
Liliane Braga,
de São Paulo (SP)
Em outubro de 2001, surgia a Cooperativa de Poetas da Periferia (Cooperifa). Nessa época, os saraus de poesia eram realizados no Garajão, em Taboão da Serra. Foi de três anos pra cá que as reuniões semanais voltadas à declamação de poesias passaram a acontecer no Bar do Zé Batidão, no Jardim São Luís (zona sul de São Paulo). É lá que, às quartas-feiras, cerca de 300 pessoas se reúnem para declamar textos próprios e alheios. Nas palavras de Sérgio Vaz, um dos idealizadores do Sarau da Cooperifa ao lado de Marco Pezão, "é um quilombo cultural, onde as pessoas não precisam limpar o pé pra entrar. E não são tiradas por aquilo que pensam. É o movimento dos sem palco".
Vigilantes, donas-de-casa, metalúrgicos... São muitas as ocupações dos que freqüentam a Cooperifa. Gente de várias as idades. E qual a importância da Cooperifa para quem faz Rap? "A partir do momento que (os jovens) começam a falar poesia, passam a construir uma poesia mais elaborada. Não em relação à informação, que já é contundente, mas em relação à estética", afirma Vaz, que acaba de lançar o livro "O colecionador de pedras", inspirado nos saraus da Cooperativa premiada na categoria "Ciência e Conhecimento" em novembro naquele que é o mais importante evento de Hip Hop da América Latina, o Hutuz (Rio de Janeiro).
A votação veio do público, comprovando que a parceria Hip Hop e poesia tem estrada longa. Vários grupos de rap que freqüentam a Cooperifa já lançaram CD. Na mesma pegada, rappers estão se lançando como escritores. É o caso de Dugueto Shabazz, MC do grupo Clãnordestino, que em setembro lançou "Notícias Jugulares: contos, crônicas e poesias dugueto".
Para Vaz, a grande contribuição do sarau literário do bairro vizinho ao Capão Redondo é para a auto-estima de seus freqüentadores. Isso é atestado pelo surgimento de outros saraus na região. Entre eles, o sarau do Binho, que acontece às segundas-feiras no bairro do Campo Limpo. Vaz, no entanto, alerta para a banalização dos saraus literários por quem se utiliza dessa nomenclatura em eventos com intenção de "chamar público". "O Sarau da Cooperifa é voltado para a poesia, não é festa. Tem ‘boy’ que quer fazer festa e chama de sarau, porque virou forma de atrair o povo. Da Cooperifa já saíram um livro com escritos de 43 autores do Sarau ("Rastilho de pólvora - antologia poética do sarau da Cooperifa, 2005) e o CD "Sarau da Cooperifa", pelo Instituto Cultural Itaú, que conta com a participação de 26 poetas
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