Quem for amanhã à Serraria Souza Pinho, o amplo espaço cultural situado bem debaixo do Viaduto de Santa Teresa, prepare-se para curtir o que talvez seja a mais contundente mostra de arte já realizada na capital de Minas Gerais, a 1ª Bienal Internacional de Grafite de Belo Horizonte. São dezenas de obras monumentais, vibrantes, de batimento urbano e impactante força visual. Realizadas, basicamente, esta semana, especialmente para o evento, por artistas brasileiros e de outros países. Gente com nomes que parecem de DJs – Hyper, Acme, Lance, Dninja, Trampo, entre outros, que pinta tanto sozinha quanto em duplas e equipes. E por diversão – adoram arte como gostam de hip-hop e skate, por sinal, berços também da manifestação que abraçaram. E que, de spray na mão, realizaram uma façanha: levaram a pintura para as ruas, fazendo com que seja de todos a arte que era de poucos.
É gente de talento, que não vem de elites econômicas, culturais ou religiosas, mas das periferias abandonadas e que, rompendo estruturas acadêmicas, correndo o risco de ser tida como marginal, está fazendo arte com soluções estéticas extremamente novas e com conteúdo ético”, afirma Rui Santana, artista plástico, curador e idealizador da bienal. Há mais de uma década ele anda às voltas com oficinas e divulgação do pessoal que conheceu por meio do projeto Arena da Cultura. A programação principal é formada por quatro mostras: Módulo histórico, história do grafite desde a pré-história até os dias de hoje; Diálogos híbridos, obras que são produto de parceria entre artistas acadêmicos e grafiteiros; A grande arte, o grafite como arte contemporânea; e Arte de rua, objetos e derivações, grafites sobre carros, camas, máquinas, objetos eletrônicos etc.
A programação do evento é ampla. Para quem quer conhecer melhor o universo de onde emerge o grafite, Rui Santana, recomenda duas palestras: “Arte marginal e nova estética” e “O grafite como identidade dos séculos 20 e 21”. Ambas parte de seminário cujo tema são as relações entre grafite, criatividade e cidadania. “E tem, todas os dias, shows com muitos artistas interessantes. É nosso desejo ampliar o diálogo do grafite com outras linguagens”, conta Rui Santana, brincando que se trata praticamente de festival paralelo ao evento.
Para o curador, o que está explícito ou implícito no grafite são questões não discutidas do cotidiano: “A desumanidade da nossa sociedade, os dramas do abandono, o descaso com a autopreservação, a necessidade de consciência ecológica planetária, questões que foram colocadas diretamente na rua, sem pedido de autorização a ninguém”. E vai além: “O grafite é o primeiro movimento mundial da história da arte. Ele tem dimensão planetária, porque vem movido por grande força criativa”. Rui identifica neste elemento a energia que vaza todas as barreiras. Trata-se, segundo ele, de proposta que praticamente promove o renascimento da pintura depois do hiato criado pela ênfase da produção recente em instalações e na arte conceitual.
“É algo muito original”, avisa. E que introduz nova técnica (o uso do spray), rompe com suporte tradicional (a tela) e trabalha em escalas urbana. “É prática que dialoga com as vanguardas, com a modernidade, carregada de flashes de vários movimentos artísticos”, completa, citando, como exemplo, a pop-art, o expressionismo, o abstracionismo, o futurismo e o hiper-realismo. O hábito de criações em equipe é “quase contramão do individualismo”, praticado por gente que cresceu e adora computadores.
DIVERSIDADEO paulista Binho Ribeiro tem 37 anos, 24 deles dedicados ao grafite. É também curador da bienal. Já grafitou em vários países, edita revista especializada sobre o assunto, e tem grife de roupas chamada 3º Mundo. Como ele explica, na seleção dos participantes priorizou-se a diversidade de estilos e representação geograficamente ampla. Valorizaram-se, ainda, lideranças regionais do movimento, de modo que possam levar a experiência mineira para onde atuam. “A Bienal de Grafite é oportunidade de ver, num único lugar, arte que existe por toda a cidade. E de conhecer os artistas”, acrescenta. Com relação à produção brasileira, conta que ela tem “improviso, liberdade de técnicas e estilos próprios”, elementos que chamam a atenção de olhares estrangeiros. O futuro do grafite? “Crescer, conquistando mais e novos espaços. E respeito de adolescentes que descobrem a função pessoal e social da arte”, conclui.
“A Bienal é demarcação do território e dos valores da arte urbana e do grafite e reunião de várias culturas. É oportunidade de a sociedade conhecer melhor o que fazemos. O grafite talvez seja a última manifestação expressiva da arte contemporânea. É arte bonita de ser vista. Vai ser, ainda, oportunidade de conhecer os grafiteiros, que são artistas meio invisíveis, já que ninguém os vê pintando”.
Lance e Rivas (DF)
“A importância da Bienal é reunir grafiteiros de todas as partes do Brasil, criando oportunidade de nos conhecermos e lutar pela nossa arte. O bonito do grafite é poder expressar o sentimento da maneira que você quiser, poder pintar com os amigos. Alguns têm mensagens políticas, de protesto. A minha é: ‘Espalhar amor e energia positiva no mundo’”.
Waleska Nomura (SP)
1ª BIENAL INTERNACIONAL DE GRAFITE DE BELO HORIZONTEAmanhã, a partir das 16h, na Serraria Souza Pinto, Av. Assis Chateaubriand, 809, Floresta. Até dia 7 de setembro, das 9h à meia-noite. Entrada franca. Informações:
www.bigbh.com.br.
SHOWSAmanhã, 21h, Renegado, Aline Calixto, DJ Spider e VJ Natan; domingo, 18h, Titios do Samba, Julgamento, DJ Yuga/VJ Gtonsegunda; dia 1º/9, 20h30, Negras Ativas, Nós Pega e Faz; dia 2/9, 20h30, Coletivo Dinamite, DejaVuh; dia 3/9, 20h30, Retrato Radical, Quarteirão do Soul; dia 4/9, 20h30, Casa B, LealSoundSystem, VJ Natan; dia 5/9, 20h30, Duelo de MC’s, Black Sonora, VJ Gton; dia 6/0, 21h, Manolos Funk, Júlia Ribas e DJ Renatito, DJ Fausto / VJ Natan; Dia 7/9, 18h, E2, U-Gueto, DJ Alex C/VJ Gton.
SEMINÁRIOSO novo muralismo e suas abordagens históricas, dia 1º/9; Criatividade, grafite e cidadania, dia 2/9; Grafite, design, publicidade e arquitetura, dia 3/9; Grafite como identidade dos séculos 20 e 21, dia 4/9; Vandalismo, arte marginal ou nova estética?, dia 5/9. Mesas-redondas sempre às 16h.
Um comentário:
Bom dia.
Meu nome é Claudemiro Junior.
Gostaria de ter acesso a projetos e exposições do Blog.
Existe algum boletim eletrônico¿
Estarei abrindo uma loja com espaço cultural para artistas de Belo Horizonte.
E procuro parcerias.
Muito obrigado.
Atenciosamente,
CLAUDEMIRO JUNIOR
ONBOARD SPORTS
atendimentomg@hotmail.com
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