Tubos de spray, pincéis e tintas a óleo pintam os muros de Belo Horizonte e desenham um novo cenário no mundo acadêmico e no mercado de trabalho. O grafite, antes apenas arte de protesto das periferias e genuína expressão do movimento hip hop, aos poucos se transforma em objeto de estudo em cursos de educação artística em universidades públicas e privadas. Como profissão, a manifestação cultural já demarcou seu espaço e hoje é meio de sustento de uma legião de jovens. Essa nova realidade vai estar estampada em painéis e telas da 1ª Bienal Internacional de Grafite, que promete agitar a capital a partir desta semana.
As artes plásticas e visuais estão na lista de cursos de graduação oferecidos em cinco universidades públicas de Minas. A crescente procura pela área se reflete nos números da maior instituição federal de ensino do estado, a UFMG. A relação candidato/vaga no vestibular 2008 para artes visuais teve um aumento de 45% em relação ao ano passado, chegando a 9,24 alunos na disputa por uma cadeira. A Escola Guignard, ligada à Universidade do Estado de Minas Gerais (Uemg), oferece o maior leque de opções para os interessados, que podem escolher entre bacharelados e licenciaturas em artes visuais e plásticas e educação artística.
Dono de exuberantes figuras que hoje enchem de cor a paisagem da capital, Warley Fabiano Santos, de 25 anos, mais conhecido como Warley Bombi, cultiva a paixão pelo desenho desde criança. “Rabiscava as paredes de casa e deixava minha marca por todas as partes. Há nove anos, o grafite me chamou a atenção e, hoje, não vejo outra trajetória de vida senão a arte”, diz Bombi, aluno do 6º período de educação artística da Escola Guignard.
O talento do jovem poderá ser visto em duas exposições durante a 1ª Bienal Internacional de Grafite, a Grande Arte e a Diálogos. Nas telas, ele pretende dar vida ao trabalho que desenvolve com jovens carentes da organização não-governamental Associação Imagem Comunitária (AIC). “Sou um multiplicador da arte e isso é importante para que eu tenha o reconhecimento da minha família. Sou de origem pobre, filho de pessoas que não têm contato com arte, com galerias, e ter um retorno financeiro do meu trabalho é fundamental”, conta Warley, que também participa do Observatório da Juventude da UFMG.
Euler Júnior/EM/D.A Press |
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Estudante da Guignard, Warley Santos sempre foi apaixonado pelo desenho e hoje não vê sua vida sem a arte |
Daniel do Carmo, o Ovlha, de 27, também pretende alçar grandes vôos com o grafite. Formado em artes plásticas pela Escola Guignard, ele agora se dedica à pós-graduação em história da cultura e da arte na UFMG. “Sempre gostei de pintura e desenho, mas, há dois anos, aprendi a usar o grafite nas artes. Tenho buscado formação acadêmica na área para desenvolver meu talento e agora a arte é minha profissão. Conclui a graduação em dezembro, comecei a trabalhar em janeiro e já tenho meu carro e minha independência financeira”, diz Ovlha, que também é professor do projeto Arena da Cultura, da Prefeitura de BH.
HISTÓRIA O grafite, arte marginal que nasceu na Europa, teve seus primeiros registros no Brasil na década de 1970. E, na última semana, a manifestação ganhou um novo status: a Câmara dos Deputados aprovou projeto de lei que trata da descriminalização do grafite. O texto diferencia pichação de grafitagem, que valorizaria o patrimônio público e privado desde que autorizado pelo proprietário do imóvel.
“A arte contemporânea reconhece o grafite como autêntico e o fenômeno está presente nas grandes e pequenas cidades. Os artistas são o espelho de seu tempo e esse movimento não vem de uma elite econômica, cultural e política, mas das periferias. A grande mudança é que a sociedade vai olhar de maneira diferenciada para essa manifestação, carregada de sopros de liberdade e de originalidade. O grafiteiro tem que buscar formação profissional e o mercado absorver esses profissionais é um reconhecimento do valor dessa linguagem”, afirma o artista plástico e professor universitário Rui Santana, que também é o idealizador e coordenador-geral da bienal.
BIENAL Grafiteiros dos quatro cantos do Brasil e de outros seis países da Europa, África, Ásia e América do Norte, vão se reunir em BH, de 30 de agosto a 7 de setembro, para participar da 1ª Bienal Internacional de Grafite. Ao todo, 120 artistas e 190 DJs vão participar de quatro exposições, seminários, oficinas e intervenções urbanas. O evento terá entrada franca das 9h à meia-noite, na Serraria Souza Pinto, na Avenida Assis Chateaubriand, 809, no Bairro Floresta, na Região Leste da capital. Informações no www.bigbh.com.br
ONDE CURSAR•
Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) artes visuais
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Universidade do Estado de Minas Gerais (Uemg) artes visuais, artes plásticas e educação artística
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Universidade Federal de Ouro Preto (Ufop) núcleos de arte; ofícios; e conservação e restauração
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Universidade Estadual de Montes Claros (Unimontes) artes visuais
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Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) – artes
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