Diretor: se conhecesse risco, não faria filme
Com agência France Presse
“Se soubesse dos riscos que íamos correr, não teria feito o filme”, declarou o diretor brasileiro José Padilha, cujo filme Tropa de Elite, premiado com o Urso de Ouro do Festival de Berlim, estréia na próxima semana na França. Tropa de Elite, que desencadeou desde sua apresentação no Festival de Berlim uma avalanche de polêmicas, narra as violentas ações de homens do Batalhão de Operações Especiais da Polícia Militar do Rio de Janeiro (Bope) na luta contra o tráfico de drogas nas favelas da cidade, em contraste com uma polícia regular corrupta.
Ultraviolento e com ritmo vertiginoso, o filme recebeu a maior distinção de um dos principais festivais internacionais e fez um grande sucesso no Brasil, mas sua ambigüidade também suscitou críticas ásperas. A revista Variety o classificou inclusive de "celebração da violência" e de obra "de recrutamento de feras fascistas". Críticas que o diretor brasileiro rejeita: "Vincular o meu filme ao fascismo é ignorar o sentido dessa palavra. O fascismo é um movimento político totalitário cujo objetivo é controlar o Parlamento, os meios de comunicação, a educação. A Polícia do Rio não tenta controlar tudo, sua violência tem um objetivo totalmente diferente".
"Meu filme mostra que a violência no Brasil não é o resultado de uma guerra particular entre a Polícia e os líderes do tráfico, como pode ser visto no cinema. Meu filme é entendido como uma provocação porque mostra que toda a sociedade financia o tráfico, inclusive as classes médias quando decidem consumir drogas", acrescentou.
O diretor mencionou as dificuldades que enfrentou para realizar as filmagens. "É possível rodar em uma favela controlada por traficantes (é o caso de meu filme, como também os de Fernando Meirelles ou Walter Salles) quando eles autorizam. Há duas maneiras de obter essa autorização: ir aos chefes do tráfico ou às associações de moradores", explicou, acrescentando que a última alternativa "é mais arriscada, mas pode contribuir para reduzir a influência dos traficantes".
"É preciso tentar usar os moradores nas filmagens, ajudar projetos sociais, mas não dar dinheiro vivo, porque esse dinheiro acabará nos bolsos dos traficantes": essa foi a opção de Padilha, mas o diretor desaconselha outros a seguir seus passos. "Não recomendo o meu método, já que quatro colegas foram seqüestrados durante as filmagens e nosso material foi roubado. As gravações tiveram que ser interrompidas por duas semanas, e tivemos que encontrar favelas sem tráfico de drogas para continuar rodando", contou. "Hoje, quando penso no que aconteceu me digo que se soubesse dos riscos que íamos correr não teria feito o filme", ressaltou.
E tudo não terminou aí. Quando Tropa de Elite foi concluído, o Bope "tentou impedir a sua estréia", disse. "Tivemos sorte porque a Justiça decidiu rapidamente autorizar a exibição do filme", afirmou.
O diretor reconhece que o fato de ter sido premiado em Berlim ajudou a distribuição da obra no exterior, porém o mais importante para ele foi receber "o prêmio das mãos de Costa-Gavras". "Foi simbolicamente muito importante para mim, porque Costa-Gavras é um verdadeiro herói na América Latina, ele compreende o continente, e compreende o filme", disse.
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