José Carlos Sturza de Moraes

Um tempo para o pai

Um tempo para o pai
“Um homem também chora - Menina morena
Também deseja colo - Palavras amenas
Precisa de carinho - Precisa de ternura
Precisa de um abraço - Da própria candura
...
É triste ver este homem - Guerreiro menino
Com a barra de seu tempo - Por sobre seus ombros"

Gonzaguinha

As datas são parte integrante de nossa vida. Nosso nascimento é datado. Nosso ingresso na escola, formaturas, férias, dias santos e mundanos. E, em agosto, vem uma dessas datas: o dia dos pais. E na falta de um ‘dia dos homens’ é a data possível de celebração de uma maravilhosa possibilidade masculina: a paternidade.
Paternidade, palavra irmã da maternidade, anda muito mal de afetos nas últimas décadas. Foi esquecida na ‘Constituição Cidadã’ de 1988, que concedeu 120 dias de licença para as mulheres e deixou intocados os 5 dias para os homens.
Paternidade enquanto possibilidade masculina é algo, entretanto, que nem todos os homens podem exercitar. Normalmente, nem aprendemos sobre isso, a não ser pelo exemplo. E o exemplo que milhões de crianças e adolescentes têm em suas casas é a ausência concreta ou simbólica do pai. Mas não qualquer ausência e sim uma ausência construída socialmente, de um homem que não pode chorar, nem pode brincar com bonecas ou bonecos, e que não leva desaforo para casa.
Meninos não aprendem a trocar fraldas, meninas sim. Meninos não aprendem a cuidar de sua saúde, meninas sim, e não aprendem que a vida é frágil, é bela e que é maravilhoso curti-la, mesmo longe do campo de futebol, da churrasqueira, do boteco e da TV... e que as flores têm cheiros e cores, as meninas sim.
Mas o que os meninos e as meninas não aprendem, em parte não é porque não queremos que aprendam? Por que tiramos de cena certos brinquedos e direcionamos outros tantos, banimos certas cores, dizemos o que é tarefa de menino e o que é de menina em casa?
A cultura que nos constitui e nos dota de meios para voar é a mesma cultura que nos aprisiona. E nossos medos e certezas desenham ou buscam desenhar o que é certo para meninos e meninas, construindo também espaços do que é ser homem e do que é ser mulher, do que é do pai e do que é da mãe.
Mas neste dia dos pais, neste final da primeira década do terceiro milênio, queremos mais. Mais tempo para sermos pais, para curtirmos nossos filhos recém-chegados ao mundo, para paparicar, trocar fraldas, brincar, estarmos ao lado da mulher amada e partilharmos tudo desse momento.
Queremos 30 dias de licença-paternidade, pois não somos apenas meio de transporte de nossos filhos do hospital para casa, nem despachantes que vão registrá-los. Queremos um tempo para chorar, para rir, para celebrar. Um tempo qualificado para sermos pais e para reaprender a sonhar.

José Carlos Sturza de Moraes
Movimento ‘30 DIAS para a Paternidade Consciente’

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