ESPANCAMENTO

Violência Contra a Mulher
Região Noroeste lidera índice de agressões domésticas em Belo Horizonte, mas para combater o crime e dar melhor assistência a vítimas Polícia Militar treina 240 agentes
Ingrid Furtado
Jackson Romanelli/EM/D.A Press
Curso instruiu militares do 34º Batalhão da PM a dar tratamento especial aos desentendimentos conjugais

Chutes na barriga, socos no rosto e muitas cicatrizes no corpo e na alma. Para combater a violência doméstica, mulheres vítimas de agressões ganharam um aliado ainda mais preparado: o policial militar. Ontem, integrantes da Patrulha de Atendimento Comunitário (PAC) do 34º Batalhão da PM terminaram o curso de capacitação para assistência a ocorrências de violência conjugal. A iniciativa tem o objetivo sensibilizar os militares que estão na ponta do atendimento, melhorar o preenchimento dos registros e ampliar as formas de intervenção. Por dia, a Delegacia Especializada de Crimes contra a Mulher, no Barro Preto, Região Centro-Sul de Belo Horizonte, recebe 25 vítimas de lesão corporal e ameaça.

A prevenção e conscientização são fundamentais para quebrar o ciclo do sofrimento entre quatro paredes. De acordo com o promotor de Justiça da Promotoria de Combate à Violência Doméstica, Eduardo Machado, 25% das mulheres no mundo ocidental são vítimas de espancamento pelo marido. A proposta do curso, pela primeira vez aplicado na PM, é capacitar 240 militares do 34º BPM e expandir a iniciativa para as outras unidades da corporação. “Caímos no erro de pensar que a violência doméstica é um problema privado. Mas essa idéia deve ser rompida. A principal diferença desse tipo de crime é a intimidade entre as partes e, em razão disso, requer esforços extras para a prevenção”, diz o comandante do batalhão, tenente-coronel Cícero Nunes Moreira, idealizador do programa.

A abordagem aos envolvidos foi um dos pontos tratados. “Aparentemente, as ocorrências de violência conjugal podem ser simples. Mas isso não deve ser encarado como uma verdade. É preciso preparo e paciência durante a abordagem. Percebemos que a qualidade de resposta dos policiais para esse tipo de registro é muito ruim e precisamos melhorar”, acrescenta o oficial. Ele observa ainda que, geralmente, esse tipo de ocorrência é estimulada pelo uso de drogas e de bebidas alcoólicas.

O oficial adianta que, para facilitar o atendimento, está estudando uma forma de colocar no boletim de ocorrência um novo campo de preenchimento, justamente para detalhar os casos de agressão dentro de casa. “Temos que quebrar o ciclo da violência doméstica, principalmente aquela que se repete. O preparo de nossos policiais é fundamental”, diz o coronel. Em 2007 e no primeiro semestre de 2008, foram registrados 500 casos de espancamento na área do batalhão.

RETRATO Levantamento da Promotoria de Combate à Violência Doméstica revela que a Região Noroeste de Belo Horizonte é a que registra o maior índice de lesões corporais contra a mulher, com 21% dos casos. Venda Nova segue em segundo lugar, com 17%. A Centro-Sul registra 15% e as regiões do Barreiro e Nordeste estão empatadas com 12% dos casos de violência conjugal em BH. “É importante frisar que a agressão não ocorre somente na hora de um tapa ou soco. Ela começa no momento em que o homem manipula e controla a mulher, antes mesmo do embate físico. O marido manifesta quem manda na relação pela coerção psicológica”, afirma o promotor Eduardo Machado.

A chefe da Divisão de Polícia Especializada da Mulher, do Idoso e do Portador de Deficiência, delegada Olívia de Fátima Braga Melo, observa que o trato com a vítima deve ser o mais respeitoso possível. “Ouvimos relatos de mulheres que se sentem ainda mais humilhadas pela forma com que são tratadas pela polícia, que geralmente enxerga a violência doméstica como um crime menor. Não podemos continuar com a idéia de que mulher apanha porque quer”, diz.

Outra novidade do programa é a criação de uma equipe multidisciplinar, composta por psicólogos e assistentes sociais. “Eles vão analisar os boletins de ocorrências e fazer triagens, caso a caso. Os agressores ou vítimas poderão ser encaminhados a serviços de acompanhamento psicossocial e jurídico ou até mesmo convidados a participar de cursos de conscientização sobre a não violência doméstica”, explica a sargento Sílvia Adriana Silva.

CASOS EM BH

Noroeste: 21%
Venda Nova: 17%
Centro-Sul: 15%
Barreiro: 12%
Nordeste: 12%
Leste: 6%
Oeste: 9%
Norte: 7,9

SERVIÇO

Delegacia Especializada de Crimes contra a Mulher, Rua Aimorés, 3005, Barro Preto. Telefone: (31) 3337-6996

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