Duelo do bem

Evento espontâneo que reúne turma do hip hop no Centro de BH chega à 50ª edição
Janaina Cunha Melo
Marcos Vieira/EM/D.A Press
Toda sexta-feira tem encontro de música, dança e grafite em frente à Serraria Souza Pinto

A primeira edição do Duelo de MCs foi no ano passado, com cerca de 30 participantes, na Praça da Estação. O evento, transferido em pouco tempo para a praça em frente da Serraria Souza Pinto, no Centro da cidade, é realizado semanalmente, às sextas-feiras. Depois de quase 50 festas ininterruptas e da expressiva adesão do público, o lugar se tornou ponto de encontro e reúne artistas dos quatros elementos da cultura hip hop. MCs, grafiteiros, DJs e B.boys trocam trabalhos e idéias, no maior fenômeno espontâneo da cidade, que vem ganhando cada vez mais reconhecimento, inclusive de outras tribos urbanas e do poder público.

“Esse tipo de evento era pra ser cotidiano, deveria fazer parte da vida cultural da cidade. O melhor do duelo é que ocorre na rua, pra todo mundo, e aparece gente do reggae, do punk, do rap e de várias regiões”, comenta Luiz Gustavo Meza Silva, o rapper Gurila Mangani. Músico e produtor eclético, que transita entre o dub, hip hop e post rock, ele elogia a habilidade poética dos MCs que enfrentam a batalha. “Encaro o freestyle sozinho, mas não a batalha”, diz sobre o ritual que coloca frente a frente dois mestres de cerimônias (MCs). Eles têm que rimar a partir de um tema e conquistar o público. O mais aplaudido vence o duelo, e leva pra casa troféu estilizado e artesanal, criado exclusivamente para o evento.

O êxito dos encontros motivou os organizadores a criar a Associação Família de Rua, que quer agora aumentar a capacidade da produção e viabilizar captação de recursos para adquirir melhor infra-estrutura. O grupo também produz pocket shows, abre espaço para performances de DJs e divulga outros eventos durante a festa. A inspiração veio da Liga dos MCs, evento nacional que passou por Belo Horizonte ano passado e mobilizou a juventude. “Criamos um espaço para se tornar ponto de encontro para as pessoas trocarem experiências, conversar, mostrar o que estão fazendo. Realizar todas essas edições de forma ininterrupta é uma vitória. Quando começamos, não tínhamos nem o ponto de energia pra ligar os equipamentos”, conta Leonardo Cezário, integrante do coletivo de realizadores, que conta ainda com Felipe Tales, Pedro Valetin, Fernando Castilho, Mateus Lima e Daniel Tocha, entre outros. Segundo eles, a prefeitura já concedeu alvará, iluminação, limpeza e segurança, mas ainda faltam banheiro químico e outros itens indispensáveis para maior comodidade do público.

Presença cativa na platéia, mas ressentida no palco, as mulheres ainda não se dispuseram a levar rimas para o duelo. Para a MC Áurea Carolina, do grupo Dejavuh, elas são menos competitivas que o homens e não gostam do “esculacho”. “Não há regras e às vezes ocorre ofensa. Mesmo sendo de brincadeira, é preciso criar certos parâmetros”, observa. Graduada em ciências sociais, ela elogia a iniciativa. “O duelo é agregador, criou um evento político, de ocupação de espaço e de encontro”. Rapper do grupo Crime Verbal e do coletivo Nospegaefaz, Blitz acrescenta: “Somos uma cultura de rua e estes encontros ajudam a legitimar um espaço importante, que é para todos, e tem sido aproveitado com música e poesia, sem qualquer tipo de problema”, diz.

DUELO DE MCS
Em frente da Serraria Souza Pinto, Centro. Hoje, a partir da 20h. Aniversário
de um ano. Entrada franca.

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