Ó talento aí, ó


Depois do teatro e do cinema, Ó paí, ó, criação do Bando de Teatro Olodum, chega à televisão em setembro, em seis episódios, com o ator Lázaro Ramos no papel principal
Sérgio Rodrigo Reis
Fotos: Zé Paulo Cardeal/Divulgação
Lázaro Ramos retorna à origem do Bando de Teatro Olodum na adaptação de Ó paí, ó, para o formato de minissérie de televisão

O ator baiano Lázaro Ramos assistiu, em 1994, a peça de teatro que mudaria sua relação com a arte: Ó paí, ó. Encenada pelo Bando de Teatro Olodum, o texto, segundo ele, se parecia com várias situações divertidas do seu dia-a-dia e, de quebra, trazia questões sérias, como a chacina infantil. A experiência o impressionou tanto que, pouco depois, ele decidiu entrar para a trupe e participar da continuação da montagem, Bye bye Pelô. O espetáculo discorre sobre os destinos dos moradores do Pelourinho que tiveram de abandonar aquela região, após a revitalização do cartão-postal baiano. Quando surgiu a oportunidade de levar Ó paí, ó para o cinema, a diretora Monique Gardenberg chamou Lázaro para protagonizá-lo. Deu tão certo na telona que o projeto volta em setembro, em formato de seriado, na Rede Globo. A essência do especial de seis episódios é parecida: “Um depoimento popular da Bahia de muita personalidade”, adianta.

Em fase final de gravações, O paí, ó quer levar para a televisão a alegria de viver do povo soteropolitano e o deboche baiano. O tom da adaptação foi herdada dos projetos anteriores. “A Monique conseguiu manter aspectos importantes, como a liberdade de interpretação e improvisação dos atores”, conta Lázaro, que viverá Roque, aspirante a cantor, dividindo a cena com artistas escalados no Bando de Teatro Olodum e outros consagrados. Nomes como Stênio Garcia, João Miguel, Virgínia Cavendish, Nanda Costa e Preta Gil também estarão no seriado. Ao ator Matheus Nachtergaele coube o papel de Queixão, o vilão. Diferentemente do filme – traduzido pela diretora como obra aberta –, cada episódio terá início, meio e fim. “A primeira temporada será didática. Tanto para o espectador quanto para os criadores das tramas, Guel Arraes e Jorge Furtado. Ambos têm domínio do entretenimento, ao mesmo tempo que conseguem trazer reflexão interessante nos trabalhos.” Além dos dois criadores, os textos contaram com a contribuição dos atores do Bando de Teatro Olodum.

Rodada em película 16 mm, Ó paí, ó chegará ao público num formato de co-produção da Dueto Filmes com a Rede Globo, responsável por supervisionar artisticamente o projeto. A experiência agradou aos envolvidos. “Acho bacana quando descentraliza. A produção televisiva brasileira ainda é bastante centrada no Rio e em São Paulo. Depoimentos como esse proporcionam muito. Como seria bom se grupos como o Galpão pudessem realizar algo parecido”, sugere. A oportunidade não conseguiu esgotar o tema. “A Bahia tem várias facetas e a série dá conta de apenas um dos lados. O mesmo acontece com o Bando de Teatro Olodum, que, além dos trabalhos autorais, têm no currículo clássicos como Dom Quixote e Sonho de uma noite de verão”, explica o ator, que ainda se considera integrante da trupe. O personagem Roque – espécie de herói popular com um olhar sonhador – conseguiu reaproximá-lo do grupo de teatro. “A série trará um pouco do clima do grupo. A interpretação acontece um tom acima do normal”, adianta.

Elenco terá participação de jovens atores ligados ao grupo baiano
Os episódios retratarão, como no filme, um grupo de moradores de um prédio invadido do Pelourinho. No início dos anos 1990, quando da reforma do lugar, várias famílias que habitavam o Centro Histórico foram expulsas dali, como tentativa de “limpar” a área para a visitação turística. Passado algum tempo, essas pessoas retornaram ao seu local de origem, invadiram prédios e hoje co-habitam com toda a atividade comercial e artística que se criou em torno da região.

A intenção, como explica Monique Gardenberg, é mostrar, com humor, as lutas pessoais, paixões, crenças e o cotidiano dessas pessoas comuns. “Acima de tudo, a vitalidade, o jeito debochado de ser.” A diretora tem a música como aliada na narrativa. “A musicalidade, traço forte no trabalho do Bando de Teatro Olodum, também foi valorizada e deve trazer um sabor novo aos seriados”, anuncia Monique, que além da direção geral foi responsável pela seleção da trilha sonora. No processo, ela contou com o apoio de outros diretores da emissora. Mauro Lima assinará dois episódios e Carolina Jabor e Olívia Guimarães estarão à frente, cada uma, de um episódio.



"A produção televisiva brasileira ainda é bastante centrada no Rio e em São Paulo. Como seria bom se grupos como o Galpão pudessem realizar algo parecido"
Lázaro Ramos, ator

"A musicalidade, traço forte no trabalho do Bando de Teatro Olodum, também foi valorizada e deve trazer um sabor novo aos seriados"
Monique Gardenberg, cineasta

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