Mulheres querem que Lei Maria da Penha "saia do papel"


Mais de 300 líderes comunitárias, chamadas de promotoras legais populares, estarão em Brasília nesta semana para entregar às autoridades um documento com suas avaliações sobre a Lei Maria da Penha, que completa dois anos de sanção na próxima quinta-feira (7). Elas querem que a lei saia do papel e seja acessível a toda a sociedade.



As líderes comunitárias vão caminhar até o Palácio do Planalto para entregar o documento ao presidente da República em exercício, José Alencar. Elas também vão tentar se encontrar com os presidentes do Supremo Tribunal Federal (STF), Gilmar Mendes, e do Superior Tribunal de Justiça (STJ), Humberto Gomes de Barros, e com os ministros da Secretaria Especial de Políticas Públicas para as Mulheres, Nilcéa Freire, e da Justiça, Tarso Genro.


“Reunir essas mulheres em Brasília, com a riqueza da atuação de cada uma delas na sua região, no exercício dos seus direitos, na multiplicação das informações para outras mulheres, vai ser riquíssimo”, avalia a coordenadora da ONG Themis Assessoria Jurídica e Estudos de Gênero, Rubia Abs da Cruz.


A Lei Maria da Penha foi sancionada pelo presidente Lula no dia 7 de agosto de 2006. A legislação, que cria mecanismos para coibir a violência doméstica e familiar contra a mulher, prevê a prisão em flagrante de agressores e acaba com as penas alternativas para esses crimes. O nome da lei é uma homenagem a Maria da Penha Maia, que foi agredida pelo marido durante seis anos.


Longe do ideal


Segundo entidades que prestam atendimento às mulheres, ainda falta muito para que a lei seja totalmente implementada. Elas apontam como causa principal o baixo número de Juizados de Violência Doméstica e Familiar Contra a Mulher. Existem 50 juizados em todo o país, o que significa menos de 1% do número de municípios do Brasil.

Rubia Abs da Cruz ressalta que, “por terem competência cível e criminal, os juizados podem agilizar a resposta dada às mulheres e lembra que a falta dessas esferas específicas é uma conseqüência de falhas no Poder Judiciário brasileiro”.

A assessora técnica do Centro Feminista de Estudos e Assessoria (CFemea), Myllena Calasans, diz que a lei ainda precisa ser efetivada em toda sua plenitude, com a ampliação e interiorização da rede de atendimento às mulheres vítimas de violência e o aumento de campanhas de divulgação. Ela também considera necessário implementar a lei nas zonas rurais e em regiões dominadas pelo tráfico.

A subsecretária de Enfrentamento Violência Contra as Mulheres da Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres, Aparecida Gonçalves, reconhece que a situação ainda está longe do ideal. Segundo ela, a maior conquista da lei foi a conscientização da população de que a violência contra a mulher é um crime. A violência deixa de ser uma coisa natural, que acontecia com nossos pais e avós, e agora passa a ser um crime. A sociedade não tolera mais essa violência contra a mulher, afirma.

Exercício da cidadania


As promotoras legais populares são capacitadas sobre a estrutura do Estado e do Direito e as principais leis relacionadas às questões dos direitos humanos das Mulheres em um curso de educação jurídica, com objetivo de aumentar o exercício da cidadania.


Esta semana em Brasília, elas também vão participar do Encontro Nacional de Promotoras Legais Populares, promovido pela ONG Themis, em parceria com organizações de mulheres de todo o país e com apoio da Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres.


As participantes do encontro vão avaliar o impacto da lei na prevenção e punição da violência doméstica e exigir que os mecanismos institucionais de proteção previstos na legislação saiam do papel e se tornem acessíveis a toda a população.


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